sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Neoateísmo, Mecânica quântica, Deus das lacunas...

Eu não gosto de fanatismo de espécie alguma. Fanatismo é o que destrói a capacidade humana de refletir sobre questões, de buscar meios de fazer-se entender, de aceitar diferentes opiniões como parte de um todo de informações a ser peneirado. Quando as questões caem no "certo" ou "errado", o questionamento deixa de ser viável. E é onde a intolerância e o fanatismo fazem escola.

O problema não é o neoateísmo mas as verdades incontestáveis que o fanático fica bradando. De repente, com a mesma fúria com que o fanático religioso prega que Deus existe e deve ser respeitado, o fanático do outro lado diz que ele não existe e que religiões devem ser banidas. No meio, perde-se o respeito à individualidade, o respeito à opinião alheia e o uso da dialética a fim de levar pessoas a chegarem a conclusões por si mesmas e não serem obrigadas a aceitarem aquilo que está sendo divulgado.

Agora... não se trata de fanatismo quando alguém tenta, by all means, explicar que o uso de certas áreas da ciência em outras áreas do conhecimento humano pode levar a absurdos conceituais, levar à má interpretação, levar ao engodo, levar ao erro... A questão então é separar o que é"pregação" daquilo que é uma tentativa muito frustrada, às vezes, de fazer entender que um sapato usado na cabeça não é chapéu, é um sapato colocado na cabeça, uma saia usada como blusa fica estranha, batom passado na bunda não é convite a beijo...

Um exemplo: Mecânica quântica pode ser aplicável até na preparação de bolos, sorvetes. Você coloca um nome "quântico" junto e tem um prato quântico. Bolo de nozes com cobertura de chocolate "quântico". Banana orgânica quântica vira frapê quântico de banana orgânica se for batida com leite quântico. A questão é explicar o que o "quântico" quer dizer fora de um contexto "quântico". :)

Não se trata de intolerância quando alguém vem de boa vontade explicar que isso é salada carregada na maionese quântica, ou não. Trata-se sim daquela tentativa, frustradíssima em alguns casos, do sujeito bem intencionado explicar que a pessoa está fazendo bobagem quando mistura as coisas porque sim, ou porque a ciência não tem todas as respostas... ou porque somos ignorantes das questões mais cruciais. O caso é que ninguém em sã consciência vai usar um pé de meia suja pra escovar os dentes. Não vai usar um par de tênis pra pentear os cabelos, não vai usar uma colher pra limpar o popô. Mas então, só porque é quântico, tem que ser multiuso e/ou usável pra explicar qualquer furo de entendimento, no melhor estilo "deus das lacunas"? Não... quer dizer, não deveria...

Repetindo para fixar: Não se trata de fanatismo, não se trata de pregação, não se trata de intolerância... não se trata sequer de neoateísmo quando isso acontece. Trata-se de tentar, by all means, explicar que o deus das lacunas não deve ser evocado.

Jamais.